Recentemente tem havido um grande número de publicações acerca da avaliação por pares (peer review), processo através do qual artigos científicos e propostas de financiamento a pesquisa passam pela avaliação quanto à competência, significância e originalidade por especialistas qualificados que pesquisam e publicam trabalhos na mesma área (pares).

O conceito de avaliação por pares remonta ao século XVII, por ocasião dos primeiros periódicos científicos. Um estudo recente conduzido pela agência britânica Sense About Science 1 com mais de 4 mil pesquisadores aponta que 84% deles considera esta etapa a mais importante da comunicação científica. Ademais, 91% deles afirma que o processo levou à melhoria significativa de seus próprios artigos, especialmente a discussão.

Um recente artigo publicado em Science examinou mais de 130 mil projetos de pesquisa financiados pelos Institutos Nacionais de Pesquisa dos Estados Unidos entre 1980 e 2008. Os autores concluíram que propostas bem avaliadas pelos pareceristas resultaram em melhores projetos de pesquisa, comprovando a eficácia do processo. 2

Apesar do consenso que a avaliação por pares é o pilar central que zela pela confiabilidade e transparência da pesquisa acadêmica, o processo não é totalmente livre de falhas e vieses. Existem controvérsias quanto às modalidades mais eficientes (cegamento), o número de avaliações e o papel do editor-chefe dos periódicos nesta análise.

O biólogo e vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2008 Martin Chalfie, da Universidade de Columbia, concedeu uma entrevista exclusiva a uma revista semanal brasileira sobre as falhas do método de revisão dos artigos, a burocracia para divulgar pesquisas em periódicos de renome e outros temas.
Martin Chalfie foi o descobridor, em colaboração com outros dois pesquisadores, da Proteína Verde Fluorescente da água-viva Aequorea victoria em 1994. O uso desta proteína tornou mais sensível e fácil a análise da expressão gênica em organismos por meio da quimioluminescência.

Na opinião de Chalfie, a avaliação por pares permanece o melhor e mais eficiente sistema de assegurar a qualidade das publicações acadêmicas, no entanto, “existem alguns problemas com a forma como a revisão é feita hoje”. Chalfie acredita que isso pode ocorrer caso os parecerista discordem diametralmente entre sí, e o editor, diante de uma negativa, pode desoconsiderar as avaliações positivas sobre o mesmo artigo. Neste sentido, o periódico eLife exige que os revisores cheguem a um consenso sobre quais pontos devem ser revisados pelo autor antes de ter seu artigo aceito para publicação. O editor, em sua opinião, deve ser um profundo conhecedor do tema do periódico, pois isso lhes dá influência necessária para criticar a revisão de um cientista renomado ou tomar decisões quando há conflito entre os pareceres. “É o que faz o periódico Genetics, cujo editor Mark Johnston não fala em peer review, mas em peer editors”.

O cientista ainda alerta para o uso indiscriminado do Fator de Impacto para avaliação de contratações ou projeções na carreira, assim como julgar um autor apenas por ter publicações em periódicos renomados, sem avaliar o conjunto de suas contribuições para a pesquisa.

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Referências
1. MULLIGAN, A., HALL, L., and RAPHAEL, E. Peer Review in a changing world: an international study measuring the attitudes of researchers. J. Am. Soc. Inf. Sci. Technol. 2013, vol. 64, nº 1, pp. 132-161. DOI: http://dx.doi.org/10.1002/asi.22798

2. LI, D; AGHA L. Big names or big ideas: Do peer-review panels select the best science proposals? Science 2015, vol. 348 n° 6233, pp. 434-438. DOI: 10.1126/science.aaa0185. Available from: http://www.sciencemag.org/content/348/6233/434